… Te digo que se tivesses dançado comigo não te irias casar com outro. Mas não, preferes um pé-de-chumbo ao meu passo ligeiro. Se me visses, todo esbelto, sim que sou lindo, já uma peixeira me tinha dito, a dançar, não uma dança de salão qualquer mas sim uma da nossa terra, daquelas que tu gostas, nunca mais me esquecerias.
Ai, como eu deslizo, suave como uma pena, tanto nos mercados como nas fábricas. Mas tu não queres saber. E o meu sorriso, quão alvo ele é. Sorrio para a esquerda, sorrio para a direita, levanto a cabeça, até parece que vou fazer uma pega de caras e, ali, o povo todo unido a bater palmas e olé!... Desculpa-me esta exaltação!... Até estou envergonhado!
Também sei fazer cara de poucos amigos, sabes como é, uma pessoa também não pode ser uma perna aberta para toda a gente, há que manter as distâncias pois o que seria se tu soubesses que nas horas que não estou contigo estou no bailarico com outras?
Ainda um dia destes veio um pateta alegre desancar-me por causa de um Cunhal qualquer que nem conheço, mas levou logo pela medida grande e ali mesmo cantei o Grândola de um revolucionário cantor ostracizado por um partido que desconheço.
Ah se tu me visses, ali de braço dado com o pessoal, deviam pensar que podia cair e estavam a segurar-me, talvez lembrados do que aconteceu a um que fuma charutos e fala durante horas, que tropeçou em pleno palco caindo para gáudio dos milhares vendilhões de templos.
Com confiança te digo, se olhares para mim como devias ter sempre olhado, outro galo cantará no poleiro e só ficarás a ganhar, terás toda a aldeia como pista de dança e, enquanto houver pão e circo, todos os dias será um bailarico pegado.
Sem comentários:
Enviar um comentário