1.11.07

Soldadim Catrapim



 Boa noite.

 Gostaria de comunicar por correio electrónico com o autor do sítio
http://marius708.com.sapo.pt/Cantores%20de%20Intervencao.html
pelo que agradeço que me respondam informando se tal é possível.


 Desço as escadas. No hall de entrada, aguardando-me com um CD na mão, estava AP Braga.

 Olho para aquele rosto e vem-me à memória o tempo em que rostos "iguais" àquele lutavam contra um Portugal amordaçado. Ainda no olhar permanecia o jovem que escrevia palavras de luta, que participava nos recitais com Zeca, Adriano, Carlos Paredes, Fanhais, Letria e tantos outros "cantautores" (intérprete, compositor e autor) nas universidades e associações recreativas.

 APBraga, Vieira da Silva, Carlos Moniz, António Macedo e outros mais, não tiveram o mediatismo de um Zeca ou Adriano, mas estavam lá. Com a cantiga como arma, a PIDE observava-os, o lápis azul funcionava e AP Braga exilou-se para a Suécia em 1973 para não fazer a guerra colonial.

 APBraga olhou para mim, entregou-me o CD e parco em palavras foi-se. Fiz-lhe uma página musical. Para além de cantor foi co-autor de outros cantos de Intervenção.

• Daqui desta Lisboa - .
• A flóber - .
• O homem e a burla - .
• Não canto porque sonho - .
• P'ró que der e vier - .
• Rosie - .

 De novo o tenho à minha frente. Agora com mais tempo, conta-me histórias dos tempos do IST, das participações no Grupo de Teatro da AEIST, nas cantigas com o Zeca, Adriano e outros, do seu exílio, do regresso a Portugal, por uma semana após o 25 de Abril e a ida para o Brasil onde tinha contrato de trabalho.

 Brasil, calor e o patrão a obrigá-lo a usar gravata. APBraga alérgico a esses apêndices fálicos, coloca um lacinho. Quando o patrão, exasperado, o confronta de novo pela falta do apêndice, AP calmamente levanta a farta barba. Cala-se o patrão e nunca mais voltou a perguntar pela gravata, não iria APBraga ter que levantar todos os dias a barba e mostrar o lacinho que nunca mais usou.



 Olho nos olhos este “cantautor”. Penso que nunca fizeram a devida homenagem a este homem e a outros que ficaram na sombra dos cantores de intervenção mais mediatizados.

 Sento o meu neto nas minhas pernas e coloco a tocar o Soldadim Catrapim. Ao som da música ele vai dando aos deditos e a bater palmas, deditos de uma criança de um ano ouvindo a música que muitos soldados não chegaram a ouvir.

Ai soldado, soldadim, catrapim!
Minha mão não te dou não, catrapão!
Não te dou deste meu peito
A dor do meu coração…


 Para ti amigo APBraga, um abraço do tamanho de um Portugal a caminho de ser de novo amordaçado.



A Página completa do APBraga (clicar Aqui)