31.7.09

Manuel Freire





Paradoxalmente de Manuel Freire não foi a canção “Pedra Filosofal” (1969) que me deu a conhecer este cantautor (em Angola, na época, não havia TV e o conhecimento do programa Zip-Zip era nulo). Em 1968 já era muito conhecido pelas interpretações de “Pedro o Soldado"“ poema de Alegre musicado por Manuel Freire:

Já lá vai Pedro soldado
Num barco da nossa armada
E leva o nome bordado
Num saco cheio de nada
Triste vai Pedro soldado


Pelo poema, “Dedicatória”, de F. M. Bernardes:

Se poeta sou
Sei a quem o devo
Ao povo a quem dou
Os versos que escrevo


A canção “Livre” – “Não há machado que corte, a raiz ao pensamento” - foi para mim um dos que mais contribuíram, para a minha paz interior quando me encontrava na tropa, no mato, já que o meu pensamento voava para outras paragens, para longe da guerra, para longe de tudo e de todos e via-me nas praias de Luanda olhando o mar em silêncio.

E depois havia uma outra canção, “Eles” , letra e música de Manuel Freire, que tocava a todos os que se viram obrigados a saírem de Portugal, a salto ou com uma carta de chamada, para longe dos seus como aconteceu a meu Pai e a tantos outros:

Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos


Anos mais tarde compro o LP “Dedicatória” que teve a colaboração de Fernando Alvim e Pedro Caldeira Cabral.

 

Para ampliar, clicar na imagem

Manuel Freire nasceu em Vagos no dia 25 de Abril de 1942. Muito jovem (16 anos) apoia a candidatura do General Humberto Delgado. Estudante em Coimbra, toma contacto com José Afonso e Adriano Correia de Oliveira. Mesmo depois de ter ido para o Porto, para um meio em que a crise académica que grassava em Coimbra não era tão evidente, Manuel Freire continua a cantar canções de cariz social e política. Como era de esperar a Censura proibiu-lhe os temas "Lutaremos meu amor", "Trova", "O sangue não dá flor" e "Trova do emigrante". Em 1969 vai ao programa Zip-Zip e o belíssimo poema de António Gedeão “Pedra Filosofal” musicado por Manuel Freire, torna-se um ícone da canção de intervenção.

No entanto, eu continuo a não saber a letra desta canção, mas nunca esqueci as que referi quando, menino e moço, as cantava lá longe onde o sol castiga mais!

A uma pergunta minha se alguma vez tinha actuado com o Zeca Afonso em Cabinda (onde fiz a tropa) disse-me Manuel Freire:

“Sobre a sua questão: não, não estive com o Zeca em Cabinda, em 74. Mas estive em Luanda em 73, pela 1ª vez, num espectáculo que começou à meia-noite e acabou com o dia nascido…”

Pois é Manuel, afinal os que estavam em Angola não eram tão reaccionários como os “pintavam”, também lá, como cá, havia gente que, com lágrimas nos olhos, cantava:

(Não há machado que corte
a raíz ao pensamento) [bis]
(não há morte para o vento
não há morte) [bis]

Se ao morrer o coração
morresse a luz que lhe é querida
sem razão seria a vida
sem razão

Nada apaga a luz que vive
num amor num pensamento
porque é livre como o vento
porque é livre



Não há morte para o pensamento pois o homem nasceu para ser livre!

Outras músicas de Manuel Freire

AQUI ou clicar no nome deste cantautor na barra lateral e a página dedicada a Manuel Freire aparece no cabeçalho.

Um "pedido" para o Manuel Freire

Comentário nº144 de Mário Rui em 2009-06-25 15:54:02 no "Livro de Visitas" do meu Cantores de Intervenção passo a citar:

"Se me permites estas palavras de agradecimento são também para Manuel Freire cantor de poetas como os que sabem, mas para um caso em particular (Manuel que o diga) que é António Gedeão (ou Prof. Romulo de Carvalho) que o Manuel tão bem canta. Manuel quando um espetáculo em grande em Lisboa Um Canto Livre para os "jovens" de todas as gerações. Pensa nisso "nós" ajudamos no que for preciso."

Fim de citação.

Não sei quem é o Mário Rui, talvez o Manuel Freire o saiba, mas o pedido fica aqui registado.

Fontes: "Canto de Intervenção" de Eduardo M. Raposo e Wikipédia.